13 de mar. de 2013

Episódio do seriado "Switched at Birth" totalmente em língua de sinais

Oi pessoal!
Quem conhece o blog há algum tempo sabe que eu sou fã de um seriado americano chamado "Switched at Birth" (aqui eu apresentei a série), que está chegando ao final de sua segunda temporada. A série é produzida pelo canal americano ABC Family, e no Brasil é transmitida pelo canal a cabo Sony. A cada episódio os temos envolvendo questões de surdos se aprofundam, e mais atores surdos são incorporados ao elenco, principalmente agora que, ao invés de mostrarem as escolas das duas personagens principais (Bay, ouvinte, e Daphne, surda), as histórias se concentram na escola de surdos Carlton, para onde Bay e outros alunos ouvintes foram integrados.


Nas imagens acima, retiradas do episódio 09 do seriado "Switched at Bith", um cartaz gigante é colocado na fachada da escola, com a imagem de uma menina com uma mão no ouvido, e a outra erguida, em sinal de luta, com as palavras "Take back Carlton", que significa "Tomar Cartlon de volta". Na segunda imagem, os alunos surdos comemoram.

O episódio que foi ao ar na semana passada (temporada 2, episódio 9) foi um dos que mais me emocionou, e eu precisava muito compartilhar isso com vocês, e foi ao ar na data que marca os 25 anos dos protestos que marcaram a comunidade surda americana por um reitor surdo na Gallaudet University.  Carlton, a escola de surdos, está prestes a ser fechada pelo governo, e os alunos serão distribuídos em escolas inclusivas (algo que tem acontecido, de verdade, em muitos lugares, inclusive no Brasil). Os alunos, então, resolvem protestar contra o fim da escola, fazendo uma alusão direta (e inclusive, mencionada), na luta dos estudantes de Gallaudet (universidade americana de surdos) no final dos anos 80 (neste post você encontra mais informações e referências sobre este importante episódio da história da educação dos surdos). 
Normalmente, as cenas deste seriado contam com a verbalização, em língua inglesa, mesmo quando a cena é sinalizada, em língua de sinais americana, ou seja, o ator sinaliza, mas também fala, como recurso para auxiliar os telespectadores da série. Essa mesma estratégia é utilizada em filmes que usam a língua de sinais, como "Os Filhos do Silêncio", por exemplo. Pois bem, no episódio da semana, que afirma que os ouvintes só entenderão realmente os surdos quando estiverem em seu lugar, apenas a primeira cena e a última fala do episódio são verbalizadas. Os sons são retirados do episódio, sem fala, sem nenhum barulho, apenas uma pequena trilha sonora aparece, às vezes. Simbolicamente, Daphne, a personagem surda, tira seu aparelho auditivo no início do episódio, e sentimos, um pouco, do que ela sente. Em todas as cenas posteriores, todos os personagens sinalizam (para os telespectadores entenderem, usam as legendas). Desta forma, como é proposto pelos produtores, os lugares se invertem: são os ouvintes, e não os surdos, que se sentem perdidos, e precisam das legendas para compreenderem as cenas.

O anúncio do episódio totalmente em ASL (American Sign Language) foi tão intenso, que a própria Gallaudet University fez um comercial para ser transmitido no intervalo do episódio, relembrando os protestos de 1988 (que completaram, na semana passada, 25 anos). Vejam o comercial abaixo:


Tenho recomendado esta série para profissionais, professores e pesquisadores da área da educação de surdos, e todos os que querem entender um pouco mais esta cultura. Em alguns cursos, já utilizei pequenos trechos de algum episódio para fomentar discussões, e a resposta tem sido bastante positiva.
Espero que todos tenham a oportunidade de ver esse episódio, e quem puder, publique sua opinião aqui nos comentários, ok?

Abraços a todos!
Vanessa

3 comentários:

Juliana disse...

Olá, Vanessa. Muito instrutivo seu posto. Pesquisando sobre o seriado descobri seu blog. Está de parabéns!
Todo esse debate despertou em mim uma curiosidade referente a comunidade surda. Há alguma preferência dominante? Digo, preferem a proposta do governo de educação inclusiva que os insere em escolas tradicionais?
Ou muitos, como no seriado, lutam por uma escola direcionada aos surdos?
O que seria mais inclusivo? Já ouvi falar da existência de escolas bilíngues, também.

Grata.

Juliana!!!

ps: Deixar meu e-mail caso leia a mensagem um dia e possa me responder!! Grata !!
analetras09@hotmail.com

Vanessa Dagostim Pires disse...

Olá Juliana

Obrigada pelo comentário e por acompanhar o blog. Continue participando, pois isso enriquece muito nossas discussões!

Sim, existe uma preferência dominante, não só no Brasil, mas acredito que em todas as comunidades surdas pelo mundo, da luta pela educação de surdos, feita por e para surdos. Isso significa uma escola com um currículo próprio para surdos, com estudo da língua de sinais e língua portuguesa, onde todos se comunicam em língua de sinais, inclusive os professores, ao ministrarem as aulas. Existe um movimento no Brasil pelas escolas bilíngues (você pode acompanhar neste blog http://bilinguesparasurdosja.com/). Quando você me pergunta o que é mais inclusivo, acho que temos que reconhecer que o termo "inclusivo" é muito completo. Inclusivo para quem? Para a maioria ou para as minorias? Não há dúvidas que uma educação que valorize a língua e a cultura surda desde cedo é a ideal, em que o surdo não se sinta "diferente" nem um estranho ou incapaz, mas tenha todo o seu potencial estimulado, tanto cognitivo como linguístico. Será que nossas escolas ditas "inclusivas" oferecem essas condições?

Vamos continuar pensando nisso. Abraço!
.

Vanessa Dagostim Pires disse...

Desculpa, a frase correta é: Quando você me pergunta o que é mais inclusivo, acho que temos que reconhecer que o termo "inclusivo" é muito complEXO.